sexta-feira, outubro 17, 2014

Vamos comer um gelado...

E porque o desporto é também mental...

" Se quer que o seu filho realmente se apaixone pelo desporto que pratica, se sinta bem em relação a ele próprio e tenha boas possibilidades de ir longe, aquilo que um Pai e Mãe podem fazer é, para além de amá-los incondicionalmente, não assumir o papel de treinadores. Sendo que o local privilegiado de um Pai ou Mãe fazerem de treinador é, muitas vezes, o carro. Após um treino ou jogo e na viagem para casa é normalmente o “momento” que os Pais têm para assumir este papel. Têm a audiência “focada” naquilo que estão a dizer e as emoções estão muito despertas. Este é, normalmente, o contexto em que os Pais se sentem impelidos a falar, a comentar, a dar opinião e a tomar partido, independentemente do filho perguntar ou não.

Este é, também, o momento que, se o filho teve uma má performance, em princípio está a sentir-se mal, triste, frustrado e desapontado consigo mesmo.

Quando os Pais começam a falar sobre o jogo ou treino, sobre a performance do filho e da equipa, a falar do treinador e das suas opções tácticas e escolhas de jogadores, disto e mais aquilo estão, muitas vezes e sem o quererem, a fazer com que o seu filho se sinta ainda pior... O melhor que os Pais podem fazer é ajudar o filho a “desligar”, deixar o jogo para trás e “trabalhar” sobre o sentimento de tristeza, frustração e decepção.
O que a maioria das crianças quer é sentir o seu amor e perceber que esse amor nada tem a ver com a sua performance desportiva. Eles precisam de saber que o Pai e a Mãe estão ali para eles, em termos emocionais. Eles precisam de saber, com os seus comportamentos, que aquilo é apenas um jogo, e que haverá muitos mais. Precisam de sentir a sua empatia e suporte. E, às vezes, precisam que lhes digam algo muito, mesmo muito profundo como... 
“Vamos comer um gelado?”...
Há um número de situações em que os atletas de formação deixam de sentir o gozo pelo desporto pela excessiva intervenção dos seus Pais. Um dos principais desafios identificados pelos treinadores de formação é a relação com os Pais e a sistemática imposição da sua “presença” (muitas vezes não é só física).
Tive, nos meus Pais, pessoas que cumpriram a sua função na perfeição. Viram grande parte dos meus jogos, tendo o meu Pai inclusive sido meu treinador em equipas que joguei menos a sério. E um dos principais indicadores que tenho em como foi boa a sua “prestação” enquanto Pai de um atleta, é o carinho que os meus colegas de equipa tinham por ele e que ainda hoje têm (passados tantos anos) e, acima de tudo, a Paixão que continuo a ter pelo Desporto.
Muitas vezes, com a vontade de protegerem ou assegurarem um futuro para os seus filhos, os Pais transportam para eles as suas necessidades ou não realizações pessoais, condicionando muitas vezes o seu futuro. Cabe aos Pais perceberem a sua “função” que é, acima de tudo, entregar amor aos seus filhos! E deixar a técnica e tática para quem de direito!!!"


Texto originalmente adaptado de "Nuno Pinto da Silva, ex atleta internacional" por Carlos Milheiro

.... Hoje Quinta-feira a tantos quilómetros de distância dos meus três filhos, só me apetece dizer; "VAMOS COMER UM GELADO" ...
Carlos Milheiro